«Portugal cria primeiro fundo para a economia cívica num total de 150 milhões
Poiares Maduro quer a sociedade civil a trabalhar em conjunto com as entidades públicas e privadas, como já acontece em Londres
Portugal
vai ser o primeiro país a criar um fundo de 150 milhões de euros para a
economia cívica, em linha com a política de Bruxelas para o quadro
comunitário 2014-2020. O projecto, anunciado ontem pelo ministro Poiares
Maduro durante a conferência "Estratégia para a Economia Cívica em
Portugal, um marco para a Europa", procura responder à recessão
económica com investimentos em projectos de inovação e empreendedorismo,
nomeadamente na área social, que envolvem toda a sociedade e alinham os
interesses públicos com os privados.
Indy Johar e Filippo Addarii, da Solve London, explicaram o conceito
desta nova economia através de exemplos concretos: na capital de
Inglaterra, uma associação de proprietários investiu no up-grade das
casas para reduzir o consumo de energia. O projecto foi apoiado pela
plataforma e, cinco anos depois, houve redução de custos, não só em
termos energéticos como noutras áreas, incluindo a saúde, uma vez que as
idas ao médico e aos hospitais caíram a pique nessa zona.
"A ideia é que estes projectos não sejam uma obrigação, mas sim uma
decisão dos cidadãos, que agem em colaboração com as entidades públicas,
nomeadamente as locais", explicou Indy Johar, fundador da Solve London,
ao i. Outro exemplo: a remoção dos lixos das ruas. A Solve
London fez uma experiência que passou por pagar um fee pela menor
produção de resíduos urbanos e, mais uma vez, teve bons resultados, com
maior separação dos lixos e menos produção. "Num mundo em que os
governos são responsáveis pela prestação deste tipo de serviços, não são
previsíveis os recursos que vão ter de usar, no futuro, com estas
actividades. Logo, isso cria um espaço para a intervenção da economia
cívica, que pode vir a diminuir substancialmente a factura nos próximos
anos."
Inglaterra tem vindo a investir na economia cívica nos últimos 15
anos, em políticas defendidas quer pela direita quer pela esquerda.
"Ainda me surpreende a visibilidade dada a este tema", disse Filippo
Addarii, que trocou a Itália por Inglaterra para melhor poder trabalhar
nesta área. "Ainda no domingo, o primeiro-ministro britânico, David
Cameron, esteve a falar da importância deste novo comportamento, que
promove o sentido cívico das pessoas e as leva a associarem-se com as
entidades públicas e privadas, e o 'The Times' levou o assunto à
primeira página."
Para Indy Johar, um dos oradores da conferência de ontem, "estamos a
entrar numa era em que a inovação social e cívica será uma força motriz
do crescimento regional e da resiliência. O mercado de investimento
social é um sector em crescimento no Reino Unido. Em 2013 valia cerca de
140 milhões de euros e está projectado chegar aos mil milhões em 2016".
Johar acrescentou que, "impulsionado pela criatividade, energia e
movimentação de uma gama diversificada de empresários cívicos e empresas
socialmente focadas, o seu poder é cada vez mais reconhecido ao nível
político, quer no G8, quer na União Europeia, quer ainda ao nível dos
governos nacionais e locais. Estamos a assistir cada vez mais a
investimentos estratégicos direccionados para uma série de novos
públicos e nichos de mercado, através de iniciativas financiadas por
filantropos privados, como a que envolveu uma doação de 703 milhões de
euros ao Big Capital Social, ou os 117 milhões aplicados no Fundo
Europeu de Investimento, para só citar alguns casos".
O
novo Papa tem sido um dos mais acérrimos defensores desta nova
economia, muito mais próxima das pessoas e que visa responder a
problemas concretos do dia-a-dia das populações, como o apoio aos mais
idosos ou a populações carenciadas, através de estruturas inovadoras que
funcionam à margem do Estado, mas com o apoio e colaboração de
entidades públicas e privadas.
Na conferência de ontem participaram, para além de Indy Johar, Simon
Willis, CEO da Young Foundation do Reino Unido e especialista em
inovação no sector público; António Tavares, provedor da Santa Casa da
Misericórdia do Porto; David Wood, director da Initiative for
Responsible Investment da Universidade de Harvard; monsenhor Giampietro
Dal Toso, secretário-geral do Cor Unum (Santa Sé) e coordenador de todas
as organizações católicas no mundo; Mario Calderini, assessor do
governo de Itália em inovação social e membro da task force do G8 sobre
investimento com impacto social; e Maria da Graça Carvalho, assessora da
BEPA (Comissão Europeia) que apresentou o novo relatório sobre inovação
social da comissão.»
Fonte: artigo de Margarida Bon de Sousa, de 26 de setembro de 2014, publicada pelo Jornal i online, em http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/portugal-cria-primeiro-fundo-economia-civica-num-total-150-milhoes/pag/-1
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