«As análises laboratoriais finais ao surto da legionella ocorrido em Vila
Franca de Xira confirmaram que a origem foi a empresa Adubos de
Portugal, apurou o SOL.
Análises confirmam que ADN da bactéria detectada na empresa é igual à que foi encontrada nos doentes.
O relatório onde consta esta conclusão foi elaborado pelo Instituto
Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e está já há algum tempo
nas mãos do Ministério Público – que se encontra desde Novembro a
investigar o caso, tendo aberto um inquérito por crime ambiental.
Através de várias e complexas análises, os peritos do INSA
confirmaram que o ADN da legionella encontrado nas torres de
refrigeração da fábrica Adubos de Portugal é o mesmo que foi detectado
na bactéria que atingiu os doentes. Ou seja, a estirpe da legionella
pneumophila existente nas amostras recolhidas nas torres de
arrefecimento apresentam igual perfil molecular ao da estirpe da
bactéria isolada nas secreções brônquicas dos doentes.
Além do relatório do INSA, o Departamento de Investigação e Acção
Penal (DIAP) da Comarca de Lisboa Norte-Vila Franca de Xira, já recebeu
também o relatório da Direcção-Geral de Saúde com os dados recolhidos
sobre o surto, que afectou 375 pessoas e matou 12.
Os peritos deste organismo de saúde realizaram inquéritos
epidemiológicos (aos doentes e familiares), fizeram vigilância
epidemiológica da doença e analisaram o mapa dos ventos predominantes
naqueles dias para determinarem como a bactéria se disseminou. E,
segundo um documento interno da DGS, onde este organismo analisa todo o
processo, os elementos recolhidos “poderão eventualmente consubstanciar a
prática de um crime de poluição”.
Afastada responsabilidade de outras fábricas
Afastada ficou a possibilidade de o surto ter origem na Central de
Cervejas e na fábrica de químicos Solvay, as outras duas empresas onde
se detectaram vestígios da mesma bactéria e se colocou a possibilidade
de serem também responsáveis pelo problema.
As autoridades de saúde e ambientais, sabe o SOL, chegaram a temer
que não fosse possível identificar com toda a certeza a origem deste
surto, que segundo a DGS, durou entre 12 de Outubro e 4 de Dezembro.
O próprio ministro da Saúde, Paulo Macedo, admitiu publicamente essa
hipótese, quando a 11 de Novembro de 2014 lembrou que já houve vários
surtos em que nunca se identificou a fonte.
Só o ministro do Ambiente Jorge Moreira da Silva, mostrou acreditar,
logo naquela altura, que “a culpa não morrerá solteira”. E chegou mesmo a
revelar ao país que, segundo os exames preliminares, o principal
suspeito era a Adubos de Portugal – o que agora foi confirmado em
análises extremamente complexas.
Empresa não foi ouvida
A Procuradoria-Geral da República anunciou a 13 de Novembro a
abertura do inquérito-crime. Mas os responsáveis da Adubos de Portugal –
que em Dezembro voltou a abrir portas – garantem que até agora nunca
foram ouvidos. Segundo fonte oficial da fábrica, “não houve qualquer
contacto” do Ministério Público (MP) ou da Polícia Judiciária.
Caso o MP deduza acusação contra a empresa, os doentes e familiares
poderão avançar com pedidos de indemnização. As vítimas – que têm tido o
apoio da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e também o
aconselhamento da Ordem dos Advogados – ainda não avançaram com acções
cíveis porque aguardam pela investigação do MP, de forma a poderem
identificar a entidade responsável pelo que aconteceu. Além disso, a
própria autarquia já anunciou que pode também avançar para tribunal por
danos causados pelo surto no concelho.»
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