sexta-feira, 27 de julho de 2012

O filme «as Linhas de Wellington» vai ao Festival de Veneza



O filme «as Linhas de Wellington» vai concorrer no Festival de Veneza, que decorrerá entre 29 de agosto e 8 de setembro 8th September 2012 (http://www.labiennale.org/en/cinema/festival/)

Deixamos aqui duas notícias publicadas sobre o tema, que vêm adiantar mais pormenores.

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«As Linhas de Wellington» está na competição oficial do Festival de Veneza

Uma «Guerra e Paz» à portuguesa» foi como o produtor Paulo Branco descreveu «As Linhas de Wellington», sobre as invasões francesas em Portugal, com interpretações de Soraia Chaves, Nuno Lopes, Albano Jerónimo e John Malkovich.
O filme português «As Linhas de Wellington», sobre a terceira invasão dos franceses a Portugal, está na competição oficial do Festival de Cinema de Veneza. Paulo Branco, o produtor, sublinhou hoje à imprensa que o reconhecimento é ««extremamente importante para a cinematografia portuguesa, porque as presenças [nacionais] em grandes festivais internacionais em competição são raras, tirando a excepção de dois ou três grandes realizadores, como Manoel de Oliveira, João César Monteiro e pouco mais».
Aliás o filme «O Gebo e a Sombra», de Manoel de Oliveira, também terá estreia em Veneza mas fora de competição, o que motivou Branco, que produziu vários filmes do decano dos cineastas, a afirmar que «queria mandar um grande abraço ao Manoel, que foi lá nove vezes comigo e, felizmente, continua a ir lá sem mim. E espero encontrá-lo lá».

«As Linhas de Wellington», que chegou a ter o entretanto falecido Raúl Ruiz como realizador, foi assinado por Valeria Sarmiento, viúva do cineasta chileno, e é protagonizado por um elenco vasto, que conta com nomes como Soraia Chaves, Nuno Lopes, Albano Jerónimo, Joana de Verona, Afonso Pimentel e Marcello Urghege, além de figuras internacionais como John Malkovich, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert ou Marisa Paredes.

A película, que envolve uma extensa reconstituição de época, é de um fulgor invulgar no panorama do cinema português, com o produtor a sublinhar que «talvez só o «Non ou a Vã Glória de Mandar» tenha sido tão exigente como este em termos de produção». «As Linhas de Wellington» tem um orçamento de quatro milhões e meio de euros, sendo o financiamento maioritariamente internacional, com um milhão e 200 mil euros de origem portuguesa.

O pano de fundo é histórico: Entre 1810 e 1811, o marechal francês Massena foi derrotado em Portugal pelo general Arthur Wellesley, duque de Wellington, que liderou um exército anglo-português e utilizou uma estratégia vitoriosa com base numa linha de fortificações que protegia Lisboa - as Linhas de Torres Vedras.
Segundo o produtor, «o projeto nasceu de uma conversa e um interesse da Câmara Municipal de Torres Vedras em comemorar o bicentenário da Linhas de Torres, através de um possível projecto audiovisual ou cinematográfico, que pudesse ser um documentário ou uma ficção. A partir daí, devido à riqueza histórica desse período na história portuguesa e na história europeia, e até a algum desconhecimento dessa história em termos nacionais, eu aceitei o desafio e pedi ao Carlos Saboga para escrever um guião».

O que Saboga entregou a Paulo Branco foi, segundo o próprio, «um dos melhores argumentos que li em toda a minha vida de produtor, e foi lido por vários realizadores internacionais que tiveram exatamente a mesma opinião que eu. O projecto, a partir daí, com um argumento desses, tornou-se mais fácil ser uma realidade».

Claro que ajudou muito o êxito internacional de «Mistérios de Lisboa», também produzido por Branco, e a presença do seu realizador, Raúl Ruiz, entretanto falecido: «por causa desse filme os financiamentos internacionais tornaram-se mais fáceis, porque lá fora acreditaram na qualidade que podíamos trazer a qualquer projeto filmado em Portugal, na qualidade dos nossos atores e das nossas equipas». A escolha de Valeria Sarmiento para o substituir não foi imediata: «havia várias hipóteses em cima da mesa mas eu achei que a pessoa que mais diretamente conhecia o projeto era ela. Eu já tinha produzido três filmes com a Valeria Sarmiento, era alguém que eu conhecia profundamente, e senti que a melhor escolha seria ela».

O facto de aquele período histórico não ser particularmente conhecido, nacional e internacionalmente, também entusiasmou os atores: Soraia Chaves sublinhou que «é uma parte da história de que nós não ouvimos falar muito na escola, parece-me que não é um episódio da história de que queiramos muito falar. Eu descobri as calamidades que se fizeram e que foram de certa forma escondidas. O projeto é fascinante também por isso, porque nos permite entrar em contacto com uma realidade que não nos estava próxima».

Um aspeto particularmente relevante é o facto de o filme ter sido acolhido pelo Ministério da Educação e, segundo a atriz Joana de Verona, «passar a ser matéria de estudo programático nas escolas, o que nos deixa orgulhosos de poder participar num projecto que é tão pedagógico».

Para Albano Jerónimo, na rodagem, «o mais difícil foram as condições climatéricas, porque foi muito, muito difícil, estava mesmo muito frio. Mas isso infuenciou também positivamente o resultado final, porque deu ao filme uma ambiência muito própria, porque o frio tornava presente um lado muito mais físico».
«As Linhas de Wellington» estreia em Portugal a 4 de outubro, e em França a 21 de novembro, em mais de 30 cidades. Haverá também uma série de televisão de três episódios intitulada «As Linhas de Torres», com os próprios atores portugueses a dobrarem as respetivas personagens em francês para exibição na televisão do hexágono.

Luís Salvado - 26-07-2012 14:00


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Portugueses em Veneza: O Gebo e a Sombra e As Linhas de Wellington

27.07.2012 - Vasco Cãmara 
 
Entre os 17 títulos a concurso no festival de cinema há filmes de Terrence Malick, Brillante Mendoza, Brian de Palma, Harmony Korine, Olivier Assayas, Kim Ki-Duk ou Takeshi Kitano
Duas produções portuguesas, O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira, e As Linhas de Wellington, de Valeria Sarmiento, estão seleccionados para o Festival de Veneza. O primeiro fora de concurso, o segundo em competição. As Linhas de Wellington é o filme que Raoul Ruiz não conseguiu concretizar antes da sua morte, em 2011, e que foi prosseguido pela companheira, a realizadora Valeria Sarmiento. Recria as invasões francesas em Portugal, no começo do século XIX, quando o general Arthur Wellesley, duque de Wellington, liderou um exército anglo-português e utilizou uma estratégia defensiva com base numa linha de fortificações que protegia Lisboa - as Linhas de Torres Vedras. Há um exército de intérpretes, por isso: John Malkovich, Marisa Paredes, Nuno Lopes, Carlotto Cota, Albano Jerónimo, Soraia Chaves, Maria João Bastos, Catherine Deneuve, Michel Piccoli, Mathieu Amalric. A produção é de Paulo Branco.
 
Durante a rodagem, Valeria Sarmiento, em declarações à Lusa, salientava a importância de "recordar, num momento difícil em que está a Europa, que ela foi construída a partir de muitas guerras." O filme de Oliveira, produção de O Som e a Fúria, dirige-se também ao presente a partir da forma como Raul Brandão, em 1923, retratava o pós-I Guerra na sociedade portuguesa, a pobreza, a honra, os sacrifícios. Do filme se diz já, em citações da imprensa internacional, ser um dos mais minimalistas do realizador, com a simplicidade dos grandes mestres. Cast: Michael Lonsdale, Claudia Cardinale, Jeanne Moreau, Leonor Silveira, Ricardo Trêpa, Luís Miguel Cintra. O filme estreará em Portugal, pela Lusomundo, a 27 de Setembro. Em França terá a sua estreia a 19 de Setembro.
 
Festival de Veneza, de 9 de Agosto a 8 de Setembro. A abrir, fora de concurso, The Reluctant Fundamentalist, da realizadora Mira Nair, que em 2001 venceu o Leão de Ouro com Monsoon Wedding. Um jovem paquistanês tenta vencer em Wall Street e as suas aspirações são apanhadas por dilemas morais e políticos. Um filme em cenário de fundamentalismos, "para pensar", segundo o director da mostra, Alberto Barbera. Deve ser isso o programa de um "filme de abertura": trazer tema(s).
 
E depois desfilarão 17 filmes em concurso, assim se concretizando a tal edição mais sóbria e com menos filmes com que o novo director, que sucede a Marco Müller, tenta aguentar um festival em tempos de crise. Obras de Olivier Assayas (Après Mai, ou seja, depois de Maio de 68), os italianos Marco Bellochio, Daniele Ciprì e Francesca Comencini, os americanos Brian de Palma (Passion, thriller erótico muito à la Mulholland Drive), Harmony Korine (Spring Breakers) e Terrence Malick (To the Wonder) ou os asiáticos Kim Ki-Duk (Pieta), Takeshi Kitano (Outrage Beyond, a continuação de Outrage, que ainda não estreou em Portugal) e Brillante Mendoza, que num ano apresenta dois filmes em festivais: Captive em Berlim, e agora Thy Womb - tal como em 2009, com Kinatay em Cannes e Lola em Veneza, naquele que foi um momento decisivo para a implantação internacional do filipino. É no Lido que veremos também o segundo tomo da trilogia Paradies do austríaco Ulrich Seidl. Depois de Amor, visto em Cannes, seguindo o despertar sexual de uma cinquentenária nas praias do Quénia, a . Em Berlim será tempo de Esperança.
 
Fora de concurso, para além de Oliveira e do filme de abertura: um documentário de Spike Lee na comemoração dos 25 anos de Bad, de Michael Jackson (Spike, recorde-se, realizou para o Rei da Pop o clip de They Don"t Care about Us); The Company you Keep, de Robert Redford; ou Witness: Libya, de Michael Mann, episódio de uma série da HBO, de que Mann é produtor, sobre a actividade de fotógrafos em cenários de guerra. Mann presidirá ao júri da competição desta 69.ª edição.
 
Valerá a pena a aventura pela secção Horizontes, dedicada a uma vertente exploratória - é aí que está Three Sisters, de Wang Bing -, e pela secção que apresentará clássicos restaurados, como Fanny e Alexander de Ingmar Bergman ou os 219 minutos de As Portas do Céu, de Michael Cimino, o tal filme cujo fracasso - e má reputação do realizador - deu o golpe de misericórdia no sonho de uma geração que ficou conhecida como a dos movie brats.

Fonte: http://ipsilon.publico.pt/Cinema/texto.aspx?id=308324



 

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