Cá está uma opinião deixada deixada na blogoesfera por um amante do património e de viagens de descoberta pura, sobre a boa surpresa de se ter cruzado com o Forte da Casa e com o património ligado às linhas torres e, por outro lado, a má impressão com que ficou da forma como espaço foi concebido, é gerido e a informação que deveria oferecer mas não oferece aos visitantes.
Para lá apontar limitações do espaço e falhas dos equipamentos e serviço público que alegadamente deveria ali servido, com base nas nessas limitações e na pobreza que as autarquias insistem em oferecer aquele espaço (sabe-se lá com que intenção; talvez queiram justificar o fecho) é a determinada altura uma questão importante e que não deve ser ignorada: «para que serve o Centro Interpretativo do Forte da Casa?».
Mas o blogger Rui Franco não fica apenas pela pergunta, dá mesmo a resposta e nós não podemos deixar de a subscrever: «Se se faz um centro
interpretativo, ele tem de ser uma mais valia para o visitante e não
somente uma acumulação de pequenos nadas que acabam por passar uma
imagem frustrante para quem lá vai».
A negrito destacamos algumas das passagens mais importantes.
Um post ao cuidado da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e da Junta de Freguesia do Forte da Casa (tendo em conta o protocolo celebrado com a primeira entidade).
Pena que este comentário não posso ter ficado depositado numa caixa dedicada esse fim no centro interpretativo. Deixamos a sua transcrição na integra:
«Eu nunca tinha ouvido falar do Forte da Casa. Já tinha passado várias vezes junto de
Forte da Casa mas, por qualquer razão, nunca tinha associado o nome da
localidade à existência de uma fortificação. Talvez porque o aspeto
absolutamente desinteressante daquilo que se vê da estrada nunca tenha
despertado a minha imaginação para a hipótese de, por trás da muralha de
feios edifícios, poder haver qualquer coisa que me pudesse - ainda que
remotamente -, interessar. Preconceito? Sim.
Durante o planeamento de um passeio até Vila Franca de Xira (naquela fase em que se anda a saltar de site em site),
dei de caras com uma referência à existência, em Forte da Casa, de um
dos muitos exemplares das construções militares que faziam parte da
Linha de Torres [Vedras], essa magnífica sucessão de fortificações que
tinha como objetivo (conseguido, diga-se), suster o avanço napoleónico
na terceira invasão francesa, no Séc. XIX. Imediatamente acrescentei o
local à minha rota.
Na devida altura, e após algumas voltas mais fruto de alguma azelhice do
que, propriamente, de más indicações, lá dei por mim em frente dos
restos da "Obra nº 38" (referência do local, no sistema defensivo). Se
eu fosse à procura de um forte sólido e imponente, ter-me-ia desiludido
imediatamente perante a visão de poucas pedras e muita terra mas eu já
sabia do estado do conjunto e, verdade seja dita, a fortificação é
perfeitamente identificável, apesar da degradação causada pelo tempo. No
interior (muito bem arranjado, para local de passeio e descanso),
existe um "centro interpretativo", coisa que, na minha experiência, pode
oscilar entre um contentor vazio e um autêntico museu. No caso, estamos
mais próximos da primeira situação.
O "Centro interpretativo do Forte da Casa", é uma pequena "caixa" de cor
de ferrugem cujas paredes interiores estão cobertas com informação
sobre as Linhas, informação essa que recorre a gravuras da época para
nos dar uma ideia de como tudo aquilo era. Um dos painéis, apresenta um
salto no texto, provavelmente correspondente à omissão de, pelo menos,
meia frase. Assim foi feito e assim ficou... A um canto, um grande écran
tátil mostra-nos uma desenxabida página de internet com ligações para
conteúdos sobre o forte e o sistema defensivo. Carreguei num dos links
com a perspetiva de ver um vídeo e apareceu-me um aviso de
descarregamento de ficheiro para instalação. "Quer continuar com o
download?", perguntou-me o computador - deixa lá, pá, fica para outra
vez. De seguida, carreguei noutro link, e o chato do computador
voltou a não me fazer a vontade porque... não tinha ligação à internet.
Desisti, ao perceber que não ia sacar nada daquele aparelho.
Voltei-me para o pequeno balcão sobre o qual se alinhavam algumas
publicações relativas às Linhas. A funcionária presente acompanhou o meu
interesse com alguma conversa na qual me esclareceu logo que não tinha
nada daquilo para venda e que eu teria de ir, pelo menos, a Alverca, ao
núcleo museológico local. Ou aí ou a Vila Franca de Xira... Perante o
mais do que óbvio interesse das publicações (uma das quais um guia
pormenorizado das rotas disponíveis, com indicações GPS para tudo - um
tesouro!, digo eu), senti-me tentado a voltar atrás uns poucos
quilómetros para adquirir os livros. E ainda mais o fiquei quando soube
dos preços obscenamente baratos daquilo (€1 por um guia de rotas e €5
por um grande livro com a história das Linhas). Era ala para Alverca que
os livros estão à minha espera! (*)
Mas, o entusiasmo pela qualidade das publicações que eu procurava
comprar e pelo seu preço simbólico, não podiam ocultar uma grande
pergunta: para que serve o Centro Interpretativo do Forte da Casa? A
informação mostrada nas paredes é pouca (e podia perfeitamente fazer
parte dos painéis existentes no exterior); a informação no computador,
pelos vistos, está inacessível (e, suspeito, que seja de pouco
interesse); os livros mostrados não estão para venda... Então, para que
serve aquilo? Para justificar um posto de trabalho?
A preservação do nosso património edificado vive muito de um certo
voluntarismo que, por vezes, nos tenta fazer crer que coisas simples
como uns painéis informativos ou um arranjo paisagístico são grandes
progressos em prol do Património quando, na realidade, mais não passam
do que o cumprir de pequenas obrigações básicas. Outras vezes, gastam-se
mundos e fundos em "grandiosos" programas que, no fim, se traduzem em
frios arranjos a leste das necessidades e interesses dos visitantes.
Dir-se-á que tudo isto é melhor do que nada, melhor do que o abandono
puro e simples. Obviamente que sim e, só mesmo em casos extremos, fazer
algo é pior do que deixar estar mas... porque razão não se podem fazer
as coisas - as pequenas coisas -, bem? Se se faz um centro
interpretativo, ele tem de ser uma mais valia para o visitante e não
somente uma acumulação de pequenos nadas que acabam por passar uma
imagem frustrante para quem lá vai.
Indicada aqui a medida do meu desconsolo, termino com nota em sentido
contrário: vale bem a pena, para quem é da capital (e não só, claro),
gastar algum tempo percorrendo os sites dos municípios do
distrito de Lisboa em busca de informação sobre o património neles
existente. É uma agradável sensação de descoberta que só pode terminar
com a exclamação "Tanta coisa para ver!".
(*) Em Alverca seria recebido por uma funcionária de inexcedível
simpatia que, inclusivamente, me ofereceu um interessante livro sobre a
localidade. Males que vêm por bem...».
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